A viagem que é migrar por Fernanda Campos

A Fernanda Campos é brasileira e vive em Lisboa desde setembro de 2014. Ela teve como destino Portugal, e inicialmente foi para os estudos, mas depois, encontrou um amor e migrou de vez para o país.

Vou deixar o texto da Fernanda Campos, que é um misto de destino, misticismo e amor.

"Meu coração por aqui ficou

Vim para Portugal para fazer o chamado “doutorado sanduíche” na Universidade Aberta. . Isso significa que, minha universidade era brasileira, mas tive a oportunidade de ficar um tempo fora realizando um estágio.

A intenção era de ficar um ano. Tinha prazo de validade, tinha uma bolsa de pesquisa, tinha uma tese para defender... só não tinha roteiro pronto.

Mal pisei em terras lusas senti um “chamamento ancestral”, logo me senti em casa. Tudo era muito familiar. Tive vários deja vu e a cidade me conquistou logo. 

Na primeira semana, encontrei com uma senhora em um ponto de ônibus e contei minha história. Ela me deu terço de Santo Antônio (que tenho até hoje) e disse que rezaria por mim. Juro! Passados poucos dias conheci meu marido, que é português.

E isto fez tudo mudar. 

Conhecemos, trocamos contatos e saímos um dia para tomar café (sim, aqui convite pra sair é tomar um café). Ainda não tinha um mês da minha chegada. Vivemos uma paixão louca. Três meses juntos e já vivíamos na mesma casa. Ele me deu a chave da casa dele, que depois virou uma tatuagem. Costumo dizer que estamos até hoje tomando café.

Decidimos ficar em Portugal

Ficamos juntos durante todo o ano. Voltei para o Brasil por 3 meses e, neste tempo, conversamos e decidimos que queríamos ficar mesmo juntos. 

Pensamos e optamos por ficar em Portugal. Os benefícios eram melhores: ele já tinha uma estabilidade aqui, um bom emprego, sem contar a qualidade de vida, segurança e essas coisas que a gente pondera quando vem pra cá. No Brasil eu tinha pedido demissão antes de vir estudar, morava com os meus pais… enfim.

Voltei e começamos organizar o nosso casamento. Aconteceu no Chapitô, com 20 convidados, somente os nosso familiares. Foi um almoço com muito bom gosto e aconchego.

Desafios da imigração

Ainda sem estar legal procurei por vagas de trabalho, sem sucesso. Era muito frustrante. Demorou conseguir a minha legalização completa. Foi quase um ano para o processo todo.

Até hoje, quase 6 anos depois,  com a minha formação e experiência realizada no Brasil, parece que não vale nada.

Para complicar, no final de 2016, o meu sogro foi diagnosticado com câncer em fase avançada. Acompanhei o tratamento e a morte de perto e foi um período muito difícil.

Passado pouco tempo, consegui me legalizar, finalizar a tese e…. engravidar.

A chegada do meu pequeno, no final de 2017, foi uma coisa fabulosa e ao mesmo tempo desafiadora. 

A solidão aumentou, os planos ficavam cada vez mais distantes e parecia ter sido uma má decisão ter ficado nas terras lusas. Chorava muito, quase todos os dias. A vontade de voltar foi grande, porém, a cada acontecimento político do Brasil me fazia pensar duas vezes.

Durante todo este tempo, me senti muito sozinha. Os amigos que fizera no primeiro ano tinham voltado para o Brasil. Saía muito pouco de casa. E alguns sonhos que tinha em termos profissionais foram sendo apagados. Me sentia muito triste. 

Estive na luta por um trabalho por todo este tempo e ainda continuo. 

Tive uma experiência de trabalho aqui bastante entusiasmante na minha área, mas o projeto foi encerrado.

Agora em meio à crise do Corona, a minha terceira grande mudança durante tão pouco tempo, tenho me sentido forte e conseguido ser produtiva, produzindo conteúdos para o Linkedin, realizando cursos, estabelecendo parcerias de trabalho.. Tenho trabalhado muito (mas ainda sem dinheiro no bolso)… semeando e esperando que em breve consiga colher frutos.

Como conviver com a solidão

Durante todos estes anos, como eu disse, passei muito tempo sozinha. O marido trabalhando fora eu ficava quase o dia falando com as paredes. O que me salvou foi ter encontrado grupo de mulheres e de mães na internet que promoviam conversas e encontros. Foi assim que conheci a Carol e tantas outras brasileiras maravilhosas. Estar em rede foi sem dúvida algo que me ajudou muito.

Durante este período também chegaram primas distantes que hoje fazem mesmo parte da família. Além de uma amiga que de ex-cunhada se tornou irmã. Elas me ajudaram bastante a acalmar, sempre que me chamavam para um almoço ou ligavam para perguntar se estava tudo bem.

Em setembro, completo 6 anos aqui. Não consigo dizer que estou completamente adaptada. Talvez nem queira. Apesar de ter agora uma família portuguesa, já entendi o que quero ou não incorporar. Sem dúvida, o coração ainda por cá está."

Eu te confesso que, ao ler o texto da Fernanda Campos, eu fiquei engasgada. Isso por que, embora possamos tomar decisões que são boas, sempre teremos consequências que podem não ser as que mais planejamos.

A Fernanda é uma daquelas pessoas queridas, que a gente queria morar do lado para comer bolo junto e tomar café. Mas mais do que uma mãe, esposa, dona de casa, filha, amiga, ela é Mestre e Doutora em Ciências da Educação e tem muito conteúdo para mostrar.

Para saber mais, acesse o site Educações em Rede e também o Linkedin da Fernanda.

Para ver outros textos sobre "A Viagem que é Migrar", acesse o meu texto e veja todos por lá. Aproveita e conta também a tua história por aqui!

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