Patrícia Cerutti e A Viagem que é Migrar

Patrícia Cerutti entrou na minha vida com uma mensagem de instagram: "vamos caminhar?" E assim, a Professora de Matemática, que escreve sobre livros de Português, me contou estórias, planos e me fez a vida de forma mais leve.

Eu adoro acompanhar o instagram do Afeto Literário e descobrir curiosidades, me emocionar com algumas indicações e ver o amor pelos livros em um mundo que muitas vezes se mostra tão automático e superficial.

Alto astral, dedicada e super mãe, esta mulher batalhadora vem contar um pouco desta animada viagem que é migrar. Aproveitem a leitura e conheçam um pouco mais da Patrícia Cerutti!

"Bem, quando a Carol me convidou para contar a minha experiência sobre imigrar, topei na hora, mas demorei muito para escrever esse texto.

E hoje, durante a quarentena que o covid me obrigou a desacelerar, resolvi pensar nessa aventura que é imigrar.

Sou gaúcha de nascença, mineira por temporada, paulista de coração e “portuga” por opção. Assim que me sinto. Amando e sendo amada por cada canto que escolhi para morar. Sou mãe de 3 amados (Gabriel, Bárbara e Giovane), 2 patudas e uma apaixonada pelo marido, mas que, infelizmente, nesse momento se encontra morando no Brasil.

Sempre fui um espírito aventureiro e sempre gostei de mudanças. Achava que ficar num mesmo lugar a vida toda não era para mim.

Quando em 1998 saímos do meu amado pampa gaúcho em direção ao sudeste brasileiro, não tinha a ideia de que seria o início de uma invernada por tantos locais diferentes.

Primeiro Belo Horizonte, onde me apaixonei pelo jeitinho mineiro e sua culinária.

Depois São Paulo que, nunca imaginei, combinaria tanto comigo. Agitada, fervorosa, viva e, por que não, em paz? Ah! Terra da garoa e dos medos do cotidiano. Terra escolhida para ser porto seguro. Lá vieram Bárbara e Giovane, paulistanos, que me conectaram mais ainda com a cidade.

Depois, escolhemos viver no interior, já que o marido merecia estar com os filhos na hora do jantar, pelo menos. Americana onde ficamos por 2 anos e Santos, na Baixada, onde ficamos por 6 anos. Continuo achando que Santos é a cidade que eu volto a morar com muita facilidade. Santos dos meus amores, das minhas caminhadas matinais, das travessias de balsa, do café no Gonzaga, do maior réveillon brasileiro, depois do Rio de Janeiro.

Mas então, o ano era 2017 e dois filhos com vontade de vir para Europa, estudar em Portugal. E aí o bichinho da mudança nos pegou e perguntou: “Por que não ir com eles?”

E como uma boa mãe “galinha” que não deixa os pintinhos saírem de baixo das asas, lá fomos nós: um casal com 3 filhos em busca de  uma vida mais segura na Europa.

Tínhamos uma vida bem estruturado e sossegada financeiramente no Brasil, mas nunca estávamos seguros de que nossos filhos chegariam em casa bem.

Marido veio na frente (3 meses antes) e organizou o terreno para nós. Enquanto isso, tudo no Brasil ia sendo vendido e organizado. Gabriel veio na frente, em dezembro, passar Natal com o pai. E eu, Bárbara e Giovane, nos reunimos com eles no dia 01 de janeiro de 2018.

Agora sim começava a nossa aventura pela Europa.

Abrimos uma empresa e nos tornamos micro-empresários. Queríamos viver do turismo e para o turismo. Nem nos nossos maiores pesadelos imaginávamos que 2020 chegaria de uma maneira tão avassaladora.

Mas eu, que desde sempre me entendendo como professora, fiz a opção por dar explicações (aulas particulares) apesar do trabalho com roteiros turisticos e contato com agências no Brasil.

Comecei meu trabalho em um centro de explicações onde muito aprendi. Fiz coisas que não fazia havia muito tempo, como dar aulas para primeiro ciclo. Mas foi isso que me fortaleceu. Foi essa oportunidade, de estar no meio da tempestade e ter que decidir se pulo fora do barco ou se ajudo a colocá-lo no prumo, que aprendi mais do que ensinei. Usei como nunca meu inglês e meu francês. Aprendi história de Portugal, relembrei as regras de gramática, usei toda a minha matemática, reinterpretei a química sob um novo olhar, estudei física (detestava, mas hoje acho suportável), aprendi a ler os clássicos portugueses no qual me apaixonei (O auto da barca do inferno e Os Lusíadas). Sim, me reinventei.

Eu, uma professora especialista em química, que só se sentia confortável nessa matéria, precisei da ajuda de Portugal para me ensinar que sou capaz de muito mais.

Com Portugal eu renasci. Eu me reorganizei e me reinventei. Com  Portugal eu conheci brasileiros que confiaram no meu trabalho e, que me ajudaram, a me ressignificar.

Mais aí veio a pandemia. E com ela o trabalho de turismo parou.

Eu conseguia me reinventar na minha área e, não querendo parecer convencida, me tornava uma referência para alguns brasileiros que aqui chegavam e queriam, simplesmente, conversar sobre educação, escolas, professores portugueses. Meu marido se sentiu perdido, sem chão.

Decidimos então voltar ao Brasil. Mas uma volta escalonada. Ele voltou,  não foi fácil. Passou 1 ano no Brasil, no Rio Grande do Sul, perto da nossa família de lá, mas longe da família daqui, sem conseguir emprego. Aqui sentiamos muito a falta dele, ainda mais com a segunda onda da pandemia a passar pelas frestas das nossas janelas. Hoje, graças a Deus, está novamente na sua área de atuação, mega feliz. Mas sabe do que mais? Voltou a morar em São Paulo, a das tempestades de verão.

E quanto a mim? Eu continuo aqui, vivendo o sonho da imigração, até nossos filhos estarem todos encaminhados e eu conseguir deixá-los voarem com as próprias asas, sonharem os próprios sonhos.

Sei que logo logo deixarei de ser imigrante para voltar ao Brasil, mas a experiência dessa vida, o quanto eu aprendi, me reinventei e me apaixonei ainda mais por essa loucura de experiência chamada vida vou levar comigo, sempre junto ao coração.

Afinal, vivemos uma única vida. E dela temos que tirar o maior proveito!

Essa sou eu, Patrícia, 53 anos, mulher de sorriso fácil e apaixonada por esta incrível experiência chamada VIDA!"

Agora me contem, exagerei no que disse lá no início do texto?

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